terça-feira, agosto 31, 2004

O inimigo e a Colher

Com a Colher de sopa enferrujada
Extrai-se a rótula com certo sacrifício
Abafa-se com uma estopa velha
O incômodo grito de suplício

No nervo exposto do joelho aberto
Agulhas brilhantes e agudas
Agora que o sangue não mais jorra
Agora que as dores estão mudas

Desacordado fica.
Descansa-se.
Há outra rótula.

sexta-feira, agosto 20, 2004

Buraco

Vazio,
Vazio perdido
Vazio que invade o vazio
Que perde-se na tristeza
Encontra-se na solidão
Vazio que precede o nada
Que nunca se acaba.
Que não chora nem causa mágoa



Me agrada.

quinta-feira, agosto 19, 2004

Dores e calos que sangram

As dores do tendão necrosado
cutucado, pinçado e pendurado
costurado, remendado e arrebentado
que fede na cama do pobre homem
na cama ao lado
morrendo, com medo, deitado
fedendo, chorando, coitado
no hospital lotado
com fezes por todo o lado
Não se comparam a dor
dos meus calos que sangram abertos em flor
Afinal, são meus calos
Minha dor
O homem? Coitado.
Que morra.